RENATO VIEIRA DE ARAUJO BIVAR
( Brasil – Alagoas )
Nasceu em 30 de Abril de 1904.
CADERNO DE POESIA - II. Santo André, SP: Clube de Poesia de S. André, 1954. 90 p. 15,5 X 22,5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Descobrimento do Brasil
— Marujo, que vês ao longe?
Por que tanta agitação?
O que tanto te constrange?
— Vejo terra, capitão!
Linhas azuis no ocidente
E furabuchos a voar.
Ao sopro de aura virente
Eis rabos de asno a flutuar!
—E eu, Pedro Álvares Cabral,
Ao monte que agora vemos,
Denominarei Pascoal,
Em honra o dia que temos.
Agora, por mim se ordena
Toda a terra examinar,
E trazer relação plena
De quanto nela se achar.
Ide, marujos valentes,
Água potável buscar;
E cuidai bem que essas gentes
Não vos vai hostilizar!
Partamos, ó companheiros!
—Eis que bandos de índios nus
Para nós correm ligeiros.
(São guerreiros guaicurús?)
— Já não podemos partir.
— Estamos todos cercados,
— Mas parece-me sentir
Que vamos ser ajudados.
— Yajhá mandi yarú Y!
— O que vão eles fazer?
— Dêem-nos os barris aqui,
Eis que intentam dizer.
— Gente boa, ó gente amável!
Quem havia de pensar
De, povo tão admirável,
Vir nestas plagas achar!
— Levemos dois destes índios
Pra mostrar ao capitão,
Que até mesmo entre os gentios
Se encontra bom coração.
— Não estão acostumados, (2)
Mas se vão acostumar.
Foram nas matas criados,
Só os falta é educar.
É uma coisa interessante: (3)
Parecem reconhecer!
Certamente ouro e diamante
Nesta terra deve haver.
— Registrem anais da história
que, a vinte e dois, sim, de abril,
A Portugal coube a glória
De descobrir o Brasil.
Registrem que a terra é boa,
Coberta de flores mil,
E que a passarada entoa
Ledos cantos, no Brasil;
Que há, nele, densas florestas
Por grossas caudais cortadas,
Onde vivem feras lestas
Em seus covis amoitadas;
Que é uma terra abençoada,
Semelhante a um paraíso,
Merecendo ser chamada
De natureza um sorriso.
(1) "Vamos apanha água" (guarani)
(2) Ao serem vestidos, os índios lançam fora as roupas.
(3) Os índios aponta para os objetos de ouro e de diamante
que vêem no navio e ao mesmo tempo para terra.
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Tua imagem
(A uma cultura do Guarani)
A imagem tua ante meus olhos tinha,
Catita e bela, encantadora até,
E quanto mais mirava mais retinha
A tua imagem em amor e fé.
Teus olhos meigos, teu sorriso terno,
Reveladores de tua alam a olor,
Achei capazes de florir o inverno,
De amenizar a minha aceba dor.
E o coração, nessa esperança doce,
A ti ligou-se com intenso amor,
Sempre confiando em que tua imagem fosse
De excelso gozo em meu vier o albor.
E agora digo, com profundo afeto,
Ao ser bondoso que, em verdade, é tu;
— És para mim o vulto mais dileto,
Ente querido, ó bem:"Chê rojhayjhu".
(1)
(1) Frase guarani que significa: "Eu te amo", e que se pronuncia
chê ro rairrú.
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Página publicada em novembro de 2022
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